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POLÍTICA

NA ESCOLA

Devido à falta de interesse político dos adolescentes, entidades escolares, como grêmios estudantis, estão perdendo força

Além de dar voz oficial às demandas estudantis dentro da gestão escolar e defender os interesses dos alunos, o grêmio é importante por ser uma das primeiras oportunidades que os jovens têm de representar seus interesses e agir politicamente por meio da participação democrática, conciliando opiniões diversas por meio do diálogo. Eles são responsáveis por representar os interesses dos estudantes na sua instituição de ensino em assuntos cívicos, culturais, educacionais, desportivos e sociais. Assim, pode-se dizer que o grêmio ajuda a incentivar o protagonismo juvenil.

Sendo uma entidade legal, reconhecida pela Lei Federal n.º 7.398 de 04 de Novembro de 1985, os Grêmios Estudantis contribuem no processo de melhoria da qualidade da educação, pois se configuram como um mecanismo de participação ativa dos estudantes nas discussões do cotidiano escolar e em seus processos decisórios, além de ser fundamental no processo de aprendizagem da função política da educação e do jogo democrático. No Paraná, a Lei Estadual nº 11.057 de 17 de janeiro de 1985, assegura a organização de grêmios estudantis nos estabelecimentos de ensino públicos ou privados.

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Segundo levantamento de 2017 do Núcleo de Articulação de Iniciativas com Pais e Alunos (NUART), existem 3.380 Grêmios atuantes em escolas estaduais no Brasil. No Paraná, os grêmios estão presentes em 486 escolas estaduais entre as 2.143 do estado, possibilitando que os estudantes aprendam a se organizar politicamente, a lutar pelos seus direitos e compreender a responsabilidade com seus deveres. Ainda em 2017, a Secretaria de Estado da Educação (SEED) e o Ministério Público do Estado do Paraná (MPPR) levantaram dados que apenas 5,54% declararam participar ativamente de grêmios estudantis e 77,24% nunca participaram.

Para o presidente do Grêmio Estudantil do Colégio Estadual do Paraná (GECEP) Thiago Leszczynski, o grêmio estudantil influencia muito na opinião política dos estudantes, gerando movimentação e interação dos alunos com o ambiente sociopolítico:

Thiago Leszczynski

Na Gestão Democrática do ensino público de 2018, que tem sua base na Constituição Federal, os grêmios fazem parte do direito do estudante: "19.3 Estimular, em todas as redes de Educação Básica, a constituição e o fortalecimento de Grêmios Estudantis e associações de pais, assegurando-se, inclusive, espaços adequados e condições de funcionamento dessas organizações, fomentando a sua articulação orgânica com os Conselhos Escolares, por meio das respectivas representações, respeitadas suas autonomia."

Apesar disso, para o vice-presidente do GECEP, Rafael Ludvich,  a administração escolar falha em seu dever como incentivadora e instrutora, deixando os alunos interessados em grêmios à própria sorte:

Rafael Ludvich

De acordo com o mesmo levantamento do NUART, uma estratégia que os Grêmios estão adotando para recrutar membros e atrair interesse de novos estudantes é promover atividades que incentivem a colaboração em grupo, sendo assim, 29% dos grupos têm como foco organizar atividades esportivas e outros 27% se dedicam na promoção de eventos culturais dentro e fora da unidade de ensino. O entretenimento é responsável pela atenção de 12% dos grêmios.

Ainda que os alunos, em grande parte, sejam obrigados a se organizarem sozinhos, o seu amadurecimento político e social é notado pelos professores. Para Andressa Domingues, coordenadora do Colégio Estadual do Paraná, o grêmio auxilia para a melhoria do papel formador da escola. “Os professores relataram que alunos que participam do grêmio mudam suas atitudes e seus comportamentos diários, começam a fazer comentários quando percebem atitudes incorretas em sala de aula e outras dependências da escola, chamando a atenção dos colegas.”

"Alunos que participam do grêmio mudam suas atitudes e seus comportamentos diários."

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SIMULAÇÕES DA ONU

De acordo com a lei estadual, os grêmios são previstos em escolas públicas e privadas, entretanto, a maioria das instituições de ensino particular recorrem às Simulações da ONU para empregar o aprendizado político no colégio. De acordo com a Organização das Nações Unidas, o objetivo da Simulação é expor os estudantes ao ambiente diplomático durante as atividades, alargando sua visão de mundo, aprendendo, na prática, o valor e a necessidade de se respeitar a diversidade e ser tolerante, ao mesmo tempo que desenvolve o senso crítico, econômico e sociopolítico dos alunos. 

Para João Pedro Nogueira, 15 anos, as simulações acrescentaram conhecimento em sua vida acadêmica: “Nós aprendemos a desenvolver nosso vocabulário, através dos textos que precisamos ler e do extenso vocabulário que adquirimos para argumentarmos durante as negociações e nossos momentos de oratória. Mas para mim a parte mais interessante é a imersão em aspectos culturais diversificados”. Nogueira ainda explica por que decidiu participar. “Quando o professor falou sobre a simulação de conferência eu me interessei bastante porque eu sou uma pessoa que gosta de debate, eu gosto de argumentar”, finaliza.

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Os projetos desenvolvidos pelas escolas tem como fundamento estimular o desenvolvimento da formação de senso crítico do alunos enquanto cidadãos, é o que diz Guilherme Campos, professor de literatura e coordenador das Simulações da ONU em um colégio particular curitibano. Campos acrescenta ainda que a Simulação promove a sensação de pertencimento aos alunos:

Guilherme Campos
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jovens na política

Apesar de os jovens serem tidos como imaturos, à medida que o tempo passa, eles se tornam a geração com mais acesso à educação na história brasileira. O engajamento político dessa classe, portanto, tende a aumentar. Em 2017, a Secretaria de Estado da Educação (SEED) e o Ministério Público do Estado do Paraná (MPPR) realizaram uma pesquisa com onze mil alunos de escolas públicas, participantes do Programa Geração Atitude, sobre a percepção dos alunos de Ensino Médio em relação a seu perfil sociopolítico. Nele, 81,41% dos jovens concordam ou concordam parcialmente que a educação política deveria estar presente nas escolas.

Com o ingresso na escola, o jovem passa a comparar ideias, a ter uma maior bagagem de conhecimentos, a saber discutir políticas públicas e a desenvolver um pensamento crítico aguçado. De modo geral, a escola capacita o indivíduo a colocar suas ideias e ideias em prática. A tendência é que eles renovem a política e a sociedade como um todo. Entretanto, dados de levantamento do primeiro semestre de 2019, realizada pelo Cadê Paraná em conjunto com as Estatísticas de Eleitorado do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mostram que o número de adolescentes entre 16 e 18 anos com título de eleitor caiu em 33% nos últimos três anos.

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José Ricardo Pacheco

Para o sociólogo José Ricardo Pacheco, desde 2013 a maioria das manifestações que ocorrem no país são motivadas por jovens adultos. 

Segundo pesquisa realizada em 2017 pela secretaria de Educação Fundamental do Ministério da Educação (MEC), são objetivos do ensino fundamental que os alunos sejam capazes de: compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito. Uma das possibilidades de engajamento político nas escolas públicas são os grêmios estudantis.

Uma parcela considerável da juventude busca se engajar politicamente, mesmo que não seja de uma maneira institucionalizada, ou seja, se filiando a alguma entidade política. Com a facilidade de acesso a informações pela internet e pelas redes sociais, os jovens têm procurado conhecer o contexto político e se posicionar diante do cenário atual. Entretanto, uma pesquisa realizada pela ONG Ação Educativa, mostra que, embora jovens e adolescentes saibam que seu envolvimento na política, começando na escola, seja a única forma de solucionar seus problemas no futuro, eles não estão dispostos a se envolver nesse campo, nem mesmo para estudo.

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Apesar de corresponder a 14% da população, jovens com idade entre 16 e 24 anos representam apenas 1,5% dos filiados à partidos políticos no país, segundo levantamento de estatísticas do TSE. A redução de filiados mais jovens é de 20% em relação à 2018, e chega a 62% na comparação com 2008. Para o cientista político Paulo Beltrão, as estatísticas se devem ao tenso período eleitoral que o Brasil está passando:

Paulo Beltrão

Em contrapartida, a população mais jovem é a mais engajada em manifestações políticas públicas, em prol de seus direitos, principalmente estudantis. Segundo o mesmo relatório de 2017 da SEED em conjunto com a MPPR, 43% dos jovens participam ativamente ou com frequência de manifestações. O número é 20% maior quando comparado à 2015. O estudante da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Ricardo Lapolli, diz que por estudar em universidade federal, vai à rua e participa para garantir seus direitos, embora não participe de nenhum partido político:

Ricardo Lapolli
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A falta de incentivo quanto ao engajamento político nas escolas brasileiras, refletem na sociedade, segundo conclusão da pesquisa da ONG Ação Educativa. Sendo assim, o papel das instituições de ensino, portanto, é cumprir com a alfabetização sociopolítica dos jovens, que apesar de obterem informações de forma abundante e rápida pela internet, devem também construir seu pensamento através de uma perspectiva que instrui refletir sobre o bem comum.

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